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Mostrando postagens de 2017

JULGAR

Difícil, e nada certo, é julgar alguém antecipadamente. Alguns dias atrás, entrei no ônibus e encontrei o cobrador mais gentil que eu já havia visto. Ele desejou boa tarde para cada um dos passageiros que estavam na minha frente e iam passando pela roleta. Quando chegou a minha vez, ele me olhou nos olhos e com um sorriso também disse: "boa tarde!". Eu respondi desejando o mesmo, e sentei no meu lugar. Às vezes um simples gesto como aquele pode alegrar o dia a dia das pessoas, mesmo que elas não percebam. Eu sentado imaginei que ele deveria ser uma pessoa muito feliz, uma pessoa muito boa também, que sabia levar a vida da melhor forma possível. Naquele momento eu realmente gostei daquele gesto e não sei porque fiquei admirado com a sutileza que ele desejava boa tarde aos passageiros, mesmo que muitas vezes os mesmos não respondiam de volta. "Que pessoa legal esse cara!", eu pensei na hora. O que aconteceu em seguida me fez refletir e escrever esse texto.      Algu

ALÍVIO

Li certa vez em um livro que existia apenas um pecado, denominador comum entre todos eles: o roubo. Quando se mata alguém, se rouba o direita à vida, rouba dos filhos o pai e da esposa o marido. Quando se trapaceia, se rouba o direito à justiça; a mentira rouba a verdade. Aquilo fez muito sentido para mim na época.      Ora, ao meu ver, das boas sensações que podemos sentir, todas se resumem em uma só: o alívio. Quem já passou por algum aperto, imaginando a pior das situações que podiam ter acontecido, e no fim tudo não passou de especulação, sabe muito bem dizer como foi grande o alívio ao descobrir que nada de ruim aconteceu. Ou então quando estamos morrendo de vontade de comer aquele prato delicioso que não comemos há tempos. O alívio após nos deliciarmos tal prato é gigantesco, uma sensação de felicidade plena.      Quem nunca se apaixonou? Cada troca de olhares com a pessoa amada é um palpitar do coração, um mini ataque cardíaco. O coração acelerado. Mãos suando. Pernas tremendo.

LOBO

Minha refeição favorita é lasanha. Amo lasanha, assim como amo tantas outras coisas, mas uma lasanha... Todos os dias quando chego em casa a primeira coisa que falo quando entro pela porta não é "oi", e sim: "onde está a lasanha?". Eu não quis dizer que pergunto com bastante frequência se minha mãe fez ou não lasanha (o que 99,9999% das vezes ela não fez), eu literalmente pergunto, há anos, TODOS OS DIAS "onde está a lasanha?". Afinal, um dia há de ter uma lasanha me esperando. EU AMO LASANHA. Assim como amo tantas outras coisas.      Tenho poucas lembranças de quando era pequeno. Uma delas é a primeira música de que me recordo: Anna Júlia, dos Los Hermanos. Linda música. Mas uma coisa que é difícil lembrar são os momentos em que eu não tinha ao lado meu Pastor Alemão, o Lobo. Quando eu estava na 3° série, participei de uma feira de filhotes, onde os alunos levavam seus animais de estimação. O Lobo tinha meses na época, e fez o maior sucesso na feira. Outr

ILEX PARAGUARIENSIS ÀS 6H

Ele estava parado no galho mais alto da árvore. Voou cerca de um metro acima, deu uma volta e voltou ao lugar de repouso. Não havia vento, nem mesmo outros animais em volta. As folhas mal se mexiam. A pergunta feita por mim naquele momento foi: por que o pássaro fez aquilo, sem nenhum motivo aparente?      Bem, a resposta pode ser dada com a própria pergunta. Por motivo algum. Ou pelo mais simples motivo: porque ele podia, afinal era um pássaro e pássaros voam. Essa semana assisti a um vídeo no qual um conhecido físico respondia à pergunta de um garoto de 6 anos e três quartos de idade. A pergunta foi "qual o sentido da vida?". Sabiamente o físico respondeu que o sentido da vida é algo que nós mesmos criamos. Um dia em que não aprendemos algo a mais do dia anterior é um dia desperdiçado, o que é realmente verdade; afinal, nunca se sabe quando será o último. Não sabendo disto, o pássaro alçou voo não para fugir de um predador nem sequer para buscar algum alimento. Simplesmente

ESCREVER É FÁCIL

“De todas as artes, a de escrever é a mais fácil, indolor e alegre forma de passar o tempo. Por exemplo, neste momento estou sentado no meu roseiral digitando no meu novo computador. Cada rosa representa uma história e graças a isso nunca me falta o  que  escrever. Eu simplesmente olho profundamente para dentro do coração da rosa, leio a sua história e a digito, coisa que gosto de fazer de qualquer modo. Eu poderia estar digitando “kijfiu joewmy jiw” que me daria o mesmo prazer de palavras que fazem algum sentido. Eu simplesmente adoro o movimento dos meus dedos batendo nas teclas. Às vezes, é verdade, a agonia visita a mente do escritor. Quando isso acontece, eu paro de escrever e relaxo tomando um café no meu restaurante favorito, sabendo de antemão que as palavras podem ser mudadas, repensadas, retocadas e, finalmente, negadas, é claro. Os pintores não podem se dar a esse luxo. Se forem à lanchonete, suas tintas podem secar e se transformar em uma massa dura.”      Faço minhas as pa

AS PERIPÉCIAS DE UM GAROTO ESTRANHO II

À LA CLARICE LISPECTOR Deodor sempre foi visto como o mais estranho entre seus iguais, aliás não havia ninguém igual a ele. Ele sempre teve os mais bizarros sonhos, e uma de suas melhores habilidades era a de sonhar acordado. Desde criança, quando ia à biblioteca, agia como um “rato”, andando desordenadamente em meio a tantas estantes recheadas de preciosos livros, esperando sempre encontrar algum que nunca tivesse visto. Isso mesmo, visto, pois ele adorava, além de ler, olhar para os livros. Esse termo, rato, não fui eu que atribui a ele não, foi uma de suas professoras; “Deodor, o rato de bibliotecas”. Esse gosto por livros é o motivo de tamanha imaginação, a de sonhar acordado, pois de tanto ler já não sabia mais o que era real e o que não era. Muitas vezes quando acordava, continuava a sonhar; enquanto fazia sua rotina diária, dava prosseguimento ao que estava sonhando enquanto dormia. Certa vez, Deodor sonhou que sua família havia viajado para uma cidade que era cortada por u

MORO NUM PAÍS TROPICAL 2

Estamos diante de um dos maiores massacres da história brasileira, mas ele é apenas o resultado da maneira que se encontra nosso país.           Muitas pessoas se comoveram, e ainda estão comovidas, quando, no dia 07 de abril de 2011, assistiram aos telejornais o caso das crianças assassinadas em uma escola do Rio de Janeiro. E daqui a um mês, será que ainda estarão? Infelizmente, casos como esse não cessarão de acontecer, pois, como um ciclo, eles irão se repetir até que um dia o Governo (e toda a população) pare e pense: “não podemos mais continuar desse jeito”.           Não é de hoje que a segurança nas escolas públicas está um caos. Os alunos já não têm mais respeito para com os professores. Em algumas escolas, o professor não pode exercer sua autoridade, pois, caso um aluno sinta-se ofendido, ele pode não voltar a lecionar novamente. Já houve muitos relatos de professores que sofreram agressões físicas de seus alunos, e isso é inadmissível. Há também casos em que professor

MORO NUM PAÍS TROPICAL

Mudei. Mudei a maneira de me referir aos meus próprios textos. Antes eu os chamava de “postagens”, termo totalmente vinculado à Internet, ou aos blogs. Esse termo deixou de ser diferente para se tornar comum. Hoje em dia até o Twitter começou a ser chamado de microblog. Algo está errado: um blog é feito de postagens, e postagens são muito mais do que apenas 140 caracteres. Não interessa. O fato é que mudei a maneira de me referir aos meus textos, de postagens para “crônicas”. Mas isso não tem nada a ver com o que eu ia escrever na minha  crônica .           Por que as músicas brasileiras, pelo menos as que ficam famosas repentinamente, estão cada vez piores?   Quando eu digo que as músicas estão ficando piores, eu me refiro às músicas de “modinha”, como a ridícula “Rebolation” ou a irritante “Minha Mulher Não Deixa Não”. Existem outras, mas essas são mais atuais, e as que eu menos suporto. Como é possível, que com apenas uma frase ridícula, alguém consiga conquistar milhões de pess

HOMENAGEM A UM GÊNIO SEM GLÓRIA

          Nascido em Porto Alegre, Roberto Landell de Moura realizou um dos maiores feitos da ciência brasileira ao transmitir, a uma distância de oito quilômetros, sua voz, entre a Avenida Paulista e o alto de Santana, em São Paulo.           Não foi só a transmissão de voz via ondas eletromagnéticas o grande feito de Landell, ele também descobriu que os corpos dos seres vivos são circundados por um halo luminoso, conseguindo fotografar essa luz. Trinta e dois anos depois, um casal soviético descobriu o mesmo fenômeno, que passou a ser chamado efeito Kirlian (em homenagem ao sobrenome do casal) ou bioeletrografia. Mais uma prova do esquecimento dos inventos de nosso gênio conterrâneo. Gênio, isso mesmo, pois aos desesseis anos construiu um aparelho telefônico (apenas um ano depois de Graham Bell), sem ao menos conhecer o aparelho do inventor do telefone.           É esquecido, também, pela invenção do rádio, pois a História atribui esse invento a Marconi. A grande "con

ESCRITOS CUNEIFORMES

A História sempre foi baseada em registros, sejam eles livros, pergaminhos, documentos, depoimentos, escritos cuneiformes ou arte rupestre. A História pôde ser contada através de simples desenhos nas paredes ou até mesmo por símbolos cuneiformes, pois são uma forma de registrar algum fato que aconteceu. Na era da internet, não é de se esperar que esses atos continuem; mas eles continuam.           O ser humano, por natureza, gosta de ser valorizado, gosta de ser elogiado, e normalmente aquele que diz “não, é exagero seu” é porque quer ouvir o elogio novamente. O Colégio Militar de Porto Alegre é, por excelência, um histórico, renomado, e desejado estabelecimento de ensino. Pesquisas e resultados mostram que é um dos melhores colégios do Rio Grande do Sul, e do país. Os valores lá ensinados não são aprendidos em qualquer lugar. Não é à toa que já estudaram sete ex-presidentes da República em suas salas de aula.           O Casarão da Várzea prova sua competência pelo grande númer

AS PERIPÉCIAS DE UM GAROTO ESTRANHO

UMA OPERÁRIA A MENOS           Deodor sempre foi visto como o mais estranho entre seus iguais (ele é uma pessoa, aos poucos eu descobri isso). Aliás, não havia ninguém igual a ele.           Quando era criança, costumava fazer pequenos hospitais para insetos que estavam morrendo (a maioria das vezes ele mesmo causava isso), e ficava o dia todo trabalhando na recuperação dos pobres animais. Mas agora a história é sobre um desses animais, apenas. A história vai parecer um pouco infantil, mas é porque Deodor era infantil (ou é, não sei, depende). Um dia, na 2° série, achou uma abelha morrendo dentro da sala de aula e tratou logo de socorrê-la. Não escutou uma só palavra do que a professora dissera durante a aula. No recreio aproveitou para cuidar melhor do himenóptero. O pátio da escola começava logo na saída das salas de aula, era uma grande área aberta rodeada de árvores, e ao pé de cada árvore havia um banco. Colocou o inseto em cima de um dos bancos e percebeu que de seu abdômen