Desde pequeno sempre tive uma visão lírica da vida. Eu tinha muito anseio, ao mesmo tempo que tinha uma certa pressa de viver. Sempre tive uma imaginação aberta, e cedo tive noção que as coisas que eu mais gostava de meditar não eram coisas que adultos costumavam falar em uma roda de conversa. Então logo ficava imaginando essas coisas apenas comigo mesmo. O livro do Pequeno Príncipe com certeza teve grande contribuição em me fazer perceber isso, me identifiquei bastante com a história e o personagem principal. Isso talvez tenha me feito ser um pouco mais fechado, tímido, por assim dizer; pensando bem, certamente fez. Eu adorava ler poesias, romances, e também arte em geral. Criei gosto e até mesmo certa habilidade em criar desenhos e pinturas, tinha um gosto em escrever poemas românticos também. Eu tinha plena noção de que minha visão sobre a vida era muito mais romantizada do que a de meus amigos homens, e claro, nunca expus isso a eles. Eu adorava escutar pessoas mais velhas, suas conversas eram tão interessantes. Imaginava como seria envelhecer, não seria triste chegar a uma fase da vida em que sabemos que logo não estaremos mais nesse mundo? Eu tinha medo de envelhecer, disso eu sabia, pois eu gostava de viver e estar vivo, e me parecia triste saber que um dia seria eu que estaria lá de cabelos brancos sentado num banco esperando a minha hora. Meu medo não era de envelhecer exatamente, mas sim de envelhecer sem ter a certeza de que a vida realmente valeu a pena, de ter plena convicção de que ela realmente aconteceu. Alô? A vida é uma só e não há botão de replay, não há câmera lenta, é isso e acabou. Por isso eu gostava de pensar que queria logo descobrir o que eu faria da vida, pois tinha que ser algo que valesse a pena. Sempre gostei muito de pensar em religião, e a origem de todos nós como um universo. Pensava muito no sentido da vida, seríamos mesmo nós apenas uma casualidade do universo e essa casualidade ter nos proporcionado à vida? Haveria mesmo um deus criador de tudo? Nenhuma das opções nunca fez o menor sentido pra mim, o que me intrigava ainda mais.
Essa minha vontade e euforia em viver, de chegar logo na parte adulta onde podemos ser livres, me dava ânimo para imaginar como seria de fato envelhecer. Duas idades pelas quais passei posso destacar. A primeira foi a idade de 12 anos, mesma idade que meu pai tinha quando começou a trabalhar. Doze anos e meu pai já trabalhava, e eu ali com a única preocupação de ter que estudar. Isso me deu um certo senso de gratidão por isso, pois graças a ele eu não precisava passar pelo mesmo. Não que fosse algo vergonhoso, longe disso. A outra idade foi a de 23 anos, mesma idade que meu pai tinha quando eu nasci. Vinte e três anos, eu estava em plena faculdade, algo que meu pai nunca teve. Eu sabia que ele tinha muito orgulho por mim, e de todos meus irmãos, e gostava de saber que isso fazia ele estar feliz. Mas eu estava envelhecendo! Vinte e três anos, meu pai já havia tido o primeiro filho, e eu, apesar de quase formado, não sabia exatamente o que fazer da vida. Quero dizer, eu não tinha nada planejado, havia dúvidas sobre o que fazer. Eu estou falando do que fazer da vida, e não em que emprego trabalhar, são coisas diferentes. Detestava a ideia de viver para trabalhar. Meu pai já tinha filhos, uma casa e família, já aposentado e ficando velho. O relógio estava passando, e mesmo sabendo que era novo, sabia também que os dias não passariam mais lentos para me esperar. Encontrei os melhores amigos possíveis justamente nessa época da vida. É claro que eu não estava perdido nesse meio tempo, eu estava seguindo meu caminho em direção a algo que eu buscava. Talvez a questão fosse justamente o quê.
Mesmo assim, minha visão lírica da vida me fazia ainda ansiar sobre o fato de envelhecer. Eu já estou mais perto de três décadas de vida do que de duas. Pessoas alcançam o sucesso com idades totalmente diferentes e a idade é meramente subjetiva, sempre soube disso. Mas eu quero viajar pelo mundo e conhecer lugares novos, comidas novas. Quero viver momentos com meus amigos, criar lembranças. Me apaixonar, viver um grande romance, dividir a vida com alguém, ter alguém a quem contar sobre as coisas, sobre a vida. Descobri que não é preciso ter pressa, as coisas vão acontecendo, e tudo bem se não forem do jeito que planejamos, imprevistos acontecem mesmo. E não, não acredito naquele ditado de que o mundo dá voltas, de que tudo que vai, volta. Um orientador certa vez me disse que o mundo está literalmente nem aí pra nós e jamais vai nos esperar. E é isso que eu penso, o mundo não vai nos dar algo bom mais para a frente só porque algo de ruim está acontecendo agora. A vida é tão curta, por que não apenas aproveitamos enquanto é possível? Então não adianta ficarmos conformados quando algo ruim acontece, imaginando que mais para a frente iremos ser recompensados pela vida. A recompensa só virá se nós fizermos ela vir, e não porque o universo conspirou para isso. Se algo de bom está na nossa frente e não aproveitarmos, talvez nunca mais surja a oportunidade novamente. Talvez por essa minha visão eu tenha me afastado um pouco da religião, pois não fazia sentido para mim ter de viver ligado a algum tipo de adoração/agradecimento a alguém por estarmos vivos. Por que algum criador com suposto conhecimento e poder acima de nós iria se importar com criaturas da Terra orando? Eu queria apenas viver livremente. Liberdade, outra coisa que eu adoro. Por que as pessoas têm tanto que se importar com a vida dos outros? Porque é importante para elas com quem os outros se relacionam, o que elas gostam, seus estilos? Por que cores importam? São só cores! O pedaço de papel retangular verde tem mais valor que certas coisas que não podem ser desvalorizadas.
Talvez essa busca por algum sentido também faça parte do próprio sentido. O Pequeno Príncipe estava certo, os adultos são tão chatos!
Droga, eu já sou um adulto.
Essa minha vontade e euforia em viver, de chegar logo na parte adulta onde podemos ser livres, me dava ânimo para imaginar como seria de fato envelhecer. Duas idades pelas quais passei posso destacar. A primeira foi a idade de 12 anos, mesma idade que meu pai tinha quando começou a trabalhar. Doze anos e meu pai já trabalhava, e eu ali com a única preocupação de ter que estudar. Isso me deu um certo senso de gratidão por isso, pois graças a ele eu não precisava passar pelo mesmo. Não que fosse algo vergonhoso, longe disso. A outra idade foi a de 23 anos, mesma idade que meu pai tinha quando eu nasci. Vinte e três anos, eu estava em plena faculdade, algo que meu pai nunca teve. Eu sabia que ele tinha muito orgulho por mim, e de todos meus irmãos, e gostava de saber que isso fazia ele estar feliz. Mas eu estava envelhecendo! Vinte e três anos, meu pai já havia tido o primeiro filho, e eu, apesar de quase formado, não sabia exatamente o que fazer da vida. Quero dizer, eu não tinha nada planejado, havia dúvidas sobre o que fazer. Eu estou falando do que fazer da vida, e não em que emprego trabalhar, são coisas diferentes. Detestava a ideia de viver para trabalhar. Meu pai já tinha filhos, uma casa e família, já aposentado e ficando velho. O relógio estava passando, e mesmo sabendo que era novo, sabia também que os dias não passariam mais lentos para me esperar. Encontrei os melhores amigos possíveis justamente nessa época da vida. É claro que eu não estava perdido nesse meio tempo, eu estava seguindo meu caminho em direção a algo que eu buscava. Talvez a questão fosse justamente o quê.
Mesmo assim, minha visão lírica da vida me fazia ainda ansiar sobre o fato de envelhecer. Eu já estou mais perto de três décadas de vida do que de duas. Pessoas alcançam o sucesso com idades totalmente diferentes e a idade é meramente subjetiva, sempre soube disso. Mas eu quero viajar pelo mundo e conhecer lugares novos, comidas novas. Quero viver momentos com meus amigos, criar lembranças. Me apaixonar, viver um grande romance, dividir a vida com alguém, ter alguém a quem contar sobre as coisas, sobre a vida. Descobri que não é preciso ter pressa, as coisas vão acontecendo, e tudo bem se não forem do jeito que planejamos, imprevistos acontecem mesmo. E não, não acredito naquele ditado de que o mundo dá voltas, de que tudo que vai, volta. Um orientador certa vez me disse que o mundo está literalmente nem aí pra nós e jamais vai nos esperar. E é isso que eu penso, o mundo não vai nos dar algo bom mais para a frente só porque algo de ruim está acontecendo agora. A vida é tão curta, por que não apenas aproveitamos enquanto é possível? Então não adianta ficarmos conformados quando algo ruim acontece, imaginando que mais para a frente iremos ser recompensados pela vida. A recompensa só virá se nós fizermos ela vir, e não porque o universo conspirou para isso. Se algo de bom está na nossa frente e não aproveitarmos, talvez nunca mais surja a oportunidade novamente. Talvez por essa minha visão eu tenha me afastado um pouco da religião, pois não fazia sentido para mim ter de viver ligado a algum tipo de adoração/agradecimento a alguém por estarmos vivos. Por que algum criador com suposto conhecimento e poder acima de nós iria se importar com criaturas da Terra orando? Eu queria apenas viver livremente. Liberdade, outra coisa que eu adoro. Por que as pessoas têm tanto que se importar com a vida dos outros? Porque é importante para elas com quem os outros se relacionam, o que elas gostam, seus estilos? Por que cores importam? São só cores! O pedaço de papel retangular verde tem mais valor que certas coisas que não podem ser desvalorizadas.
Talvez essa busca por algum sentido também faça parte do próprio sentido. O Pequeno Príncipe estava certo, os adultos são tão chatos!
Droga, eu já sou um adulto.
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