Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2020

DANÇA

Ela me dá vontade de dançar Mesmo eu não sabendo Não é dança ainda Mas é como se fosse começar Eu pararia o tempo Para admirar o corpo dela Mas eu ficara para sempre Ouvindo ela falar

HORTELÃ

Um físico famoso, que há poucas décadas faleceu e juntou-se ao cosmos do universo, certa vez escreveu um livro onde narra os feitos da sonda espacial  Voyager  em direção a Saturno. Quando ela passou próxima ao planeta, recebeu ordens de virar suas câmeras em direção à Terra. A nave estava a 6 bilhões de quilômetros de distância, e por um leve acidente de geometria, nosso planeta ficou exatamente em cima de um raio de luz, causado pelo reflexo do sol na espaçonave. Na imagem, nosso planeta é apenas um pálido ponto azul (título do livro), ironicamente apoiado em uma faixa de incontáveis pontos iguais a pequenos grãos de areia. Esse relato acabou virando uma das reflexões mais famosas da evolução do pensamento científico moderno. Tudo que já aconteceu em nosso planeta, e tudo que vai acontecer, está contido em um minúsculo e imperceptível ponto em um mar de incontáveis corpos cósmicos. Todas as pessoas, que por ganância lutaram pelo poder, para governar e dominar o mundo por uma fração d

CAFÉ

Aprendi muito com você. Lembro da primeira vez que você beijou minha mão. Nós estávamos em um café, comendo uma torta que custou mais caro do que ela merecia custar, mas que ainda assim era deliciosa. O cappuccino não veio com canela, é verdade, mas estar lá com você bastava. Então, depois de terminarmos de comer, ficamos conversando um de frente para o outro, com nossos cotovelos apoiados na mesinha. Em algum momento, você pegou minha mão e a levou lentamente em direção a sua boca, e a beijou. Por um segundo, senti o tempo parar, só para poder gravar aquele momento. E cá estou escrevendo-o. Lembro também de como você gostava de beijar meu nariz, entre um beijo e outro. Era bem de leve, mas muito sutil. Havia também uma posição que você preferia que segurássemos as mãos enquanto andávamos. E curiosamente, era a minha preferida também. Lembro como eu adorava ver a forma com que você tratava as outras pessoas. Sempre com muito carinho, ou extremamente firme e séria quando necessário. Eu

CALOR

Segundo a ciência, calor não é uma medida escalar de temperatura, é uma ação de troca de energia entre dois corpos. Há calor entre dois corpos quando ambos possuem temperaturas diferentes. Por isso, dizer que o dia "está calor" é errado, o certo seria dizer que a temperatura no dia está quente. Existe o calor simplesmente porque nossos corpos estão em uma temperatura menor do que a temperatura ambiente.      Calor não é um adjetivo, é um verbo.      Mas temperatura não significa necessariamente energia, um exemplo são as fagulhas de solda ou metal serrado que saltam na pele e não queimam. Apesar de estarem extremamente quentes não possuem energia suficiente para queimar. São pedaços de metal tão pequenos que rapidamente perdem toda temperatura que tinham instantes antes de encostar em nossa pele. Um calor que dura tão pouco tempo.      Num lado mais poético, tudo é calor. Tudo na vida é uma troca de energia, e não somente física. Nas pessoas, nos lugares ou em momentos que ap

SORRISO

Alguns podem dizer que é apenas uma sujeira no vidro do carro. Outros irão dizer que é um sorriso. Ou quem sabe uma lágrima. E esse é o poema.  

CALÇADA

Eu soube que iria me apaixonar Quando ela encostou a cabeça Em meu ombro Sentados na calçada Ali eu já soube Tempos depois Descobri também Que foi naquele momento Que eu havia me dado mal.

HUMBERTO

No palco havia um homem de cabelos loiros e compridos de pé, ao lado de um pedestal com um microfone. A guitarra estava pendurada em seu pescoço apenas pela alça. A mão direita do homem estava sobre um teclado, e a esquerda segurava uma gaita harmônica com alguns dedos, enquanto os outros dedos seguravam o microfone do pedestal. E aos seus pés, uma pedaleira de guitarra que ele controlava com o pé direito. Havia diversos holofotes alinhados no teto do palco, todos apontados para o homem com os instrumentos. As cortinas às suas costas mudavam de cor conforme as luzes apontadas para elas alternavam. Em sua frente havia uma multidão de pessoas em pé, no escuro, espalhadas ao longo de dois andares lotados. Naquele momento, não importava o que o homem ao palco falasse, tudo soaria como poesia para as pessoas que o assistiam. Elas estavam ali para isso.      Momentos antes, o homem se preparava atrás das cortinas para entrar no palco. Não era a primeira vez que ele iria fazer aquilo, mas

SENTIR

Esse é um texto de sentimentos e sensações, não de apologia.      Eu gosto de tomar um vinho. Isso me faz ter uma sensação boa de mim mesmo. Sei que com algumas pessoas pode não ser assim, pode trazer até alguns pensamentos confusos. Mas eu gosto e me sinto bem. Sou uma pessoa que cria sentimentos muito facilmente, gosto de sentir as coisas a fundo, não sou de me conter quanto a isso. Mas infelizmente me vejo numa sociedade com estereótipos que veem o fato de sentir coisas, logo cedo, e demonstrar, como um sinal de fraqueza. Isso geralmente assusta algumas pessoas, pode afugentá-las. Mas não porque sentir seja algo ruim; apenas porque a maioria talvez não se permita a isso. Mas eu gosto do sentimento de descoberta, de estar disposto e ciente de que algo bom está surgindo. Não que eu saiba o bastante sobre as coisas, muito pelo contrário. Sei pouco e quero justamente saber mais. Quero sentir coisas boas, e talvez até algumas não tão boas, se isso for necessário para... sentir.     

PITANGA

Era apenas um pé de pitangueira em meio a um solo visivelmente seco. Ao redor não havia outras plantas, de modo que o pé se destacava pelas pequenas frutas vermelhas e brilhosas. De perto, podia-se ver brotos rosa quase florescendo. As frutas pareciam tão perfeitas que não tive coragem de arrancar e experimentá-las. Avistei uma caída no chão e a peguei. Ela estava um pouco machucada, é claro, mas ainda assim era possível sentir seu aroma no ar ao espremê-la. Era macia, e seu suco escorreu entre meus dedos, espalhando ainda mais o aroma frutado. Algo tão simples como um fruto de pitangueira me fez refletir o quão surreal e maravilhoso era o processo de uma semente germinar, crescer e dar frutos contendo outras sementes. Todo o processo biológico por trás disso já é muito bem conhecido e é possível até mesmo explorá-lo, alterando-o geneticamente. Ainda assim, isso não tira o fato de que uma simples semente gerar um fruto tão doce e suculento é algo surreal e maravilhoso, milagroso! Algu

LINIKER

Liniker é a melhor representação do que é de fato a identidade do ser humano.      Uma das coisas que menos faz sentido no comportamento social entre pessoas é qualquer tipo de preconceito, e principalmente qualquer tipo de pré-conceito . Como é possível que exista entre nós, únicos seres vivos conhecidos com nível intelectual e capacidade de raciocínio altíssimos, sentimentos como o preconceito? A cor da pele de uma pessoa não interfere em absolutamente nada na capacidade dela de se comunicar, pensar, crescer, comer, amar, reproduzir, em nada. Porém, em algum momento e por algum motivo, certa pessoa se importou tanto com a diferença de cor da pele que um sentimento negativo foi criado. Esse sentimento foi passado para outras pessoas, e está entre nós até hoje. Sem entrar na questão histórica que possa descrever tal acontecimento, o fato é que o preconceito racial em algum momento surgiu e está sim presente em nossa cultura.      O mesmo se aplica ao preconceito sobre a orientação

ADULTOS

Desde pequeno sempre tive uma visão lírica da vida. Eu tinha muito anseio, ao mesmo tempo que tinha uma certa pressa de viver. Sempre tive uma imaginação aberta, e cedo tive noção que as coisas que eu mais gostava de meditar não eram coisas que adultos costumavam falar em uma roda de conversa. Então logo ficava imaginando essas coisas apenas comigo mesmo. O livro do Pequeno Príncipe com certeza teve grande contribuição em me fazer perceber isso, me identifiquei bastante com a história e o personagem principal. Isso talvez tenha me feito ser um pouco mais fechado, tímido, por assim dizer; pensando bem, certamente fez. Eu adorava ler poesias, romances, e também arte em geral. Criei gosto e até mesmo certa habilidade em criar desenhos e pinturas, tinha um gosto em escrever poemas românticos também. Eu tinha plena noção de que minha visão sobre a vida era muito mais romantizada do que a de meus amigos homens, e claro, nunca expus isso a eles. Eu adorava escutar pessoas mais velhas, suas c

IRMÃ

Minhã irmã tem menos idade do que eu tinha quando decorei a primeira tabuada. E com certeza tem menos idade do que eu tinha quando percebi o porquê da tabuada. Ainda assim, ela talvez tenha me feito descobrir o que quero fazer na vida.      Com ela já bem nova comecei a inserir ainda mais dúvidas em seus questionamentos diários, e também a passar respostas com explicações mais científicas, coisa que não tive muito quando eu era pequeno. O gosto por ensinar ela tão nova a pensar em assuntos antes da hora, fez com que ela aprendesse coisas que geralmente não são ensinadas às crianças. Comecei a ensinar física e matemática a ela, coisas que ela só aprenderia quase uma década depois. Me vi gostando daquilo, de ensinar. Não necessariamente o conteúdo do ensinamento, mas o ato de ensinar algo a alguém. Descobri então que poderia ser aquilo o que eu gostaria de fazer na vida.     Como eu disse, m inha irmã tem menos idade do que eu tinha quando descobri a tabuada, e desde que comecei a e