No palco havia um homem de cabelos loiros e compridos de pé, ao lado de um pedestal com um microfone. A guitarra estava pendurada em seu pescoço apenas pela alça. A mão direita do homem estava sobre um teclado, e a esquerda segurava uma gaita harmônica com alguns dedos, enquanto os outros dedos seguravam o microfone do pedestal. E aos seus pés, uma pedaleira de guitarra que ele controlava com o pé direito. Havia diversos holofotes alinhados no teto do palco, todos apontados para o homem com os instrumentos. As cortinas às suas costas mudavam de cor conforme as luzes apontadas para elas alternavam. Em sua frente havia uma multidão de pessoas em pé, no escuro, espalhadas ao longo de dois andares lotados. Naquele momento, não importava o que o homem ao palco falasse, tudo soaria como poesia para as pessoas que o assistiam. Elas estavam ali para isso.
Momentos antes, o homem se preparava atrás das cortinas para entrar no palco. Não era a primeira vez que ele iria fazer aquilo, mas isso não evitava que pensasse na sensação que sentia toda vez que esse momento chegava. Atrás das cortinas era possível ouvir o burburinho das pessoas que aguardavam ansiosas à sua entrada. Havia diversos cartazes ao redor da cidade anunciando seu nome, data, horário e local. A atenção da noite era toda sua, ele era o centro do universo daquelas pessoas naquele momento. A responsabilidade era grande, pois sabia que iria tocar a alma de milhares de pessoas, apenas com a sua voz. Ainda atrás das cortinas, ouviu nos alto-falantes o locutor anunciar seu nome à plateia, era o sinal para a sua entrada. Quando entrou no palco a multidão explodiu em aplausos e gritos de ansiedade. Embora a plateia estivesse no escuro e não fosse possível enxergar as pessoas devido ao holofote apontado para o palco, ele podia senti-las. Num movimento quase como se tivesse sido combinado, as pessoas pararam imediatamente com o barulho quando ele fez sinal de que ia falar. Ele realmente era o centro do universo daquelas pessoas naquela noite.
Era possível acompanhar o que o homem fazia com todos os sentidos. Era possível apenas ouvir e admirar-se com a sua voz. Também era possível encantar-se com a visão da habilidade com que tocava os instrumentos. Com certeza era possível apreciar a maneira com que expressava suas melodias. E principalmente, era possível sentir as notas e a voz que vinham do palco. Não eram letras, eram conversas e histórias em formato de música.
A conexão que havia entre o homem e a plateia era admirável, bastava que ele parasse de cantar apenas alguns versos, que as pessoas continuavam sem se importar. Ele era como o maestro, estava ali apenas para guiar o espetáculo. As músicas, compostas e escritas por ele mesmo, já não eram dele, não pertenciam mais a ele. Apenas algumas notas produzidas pela guitarra bastavam para criar uma euforia em todos os que estavam presentes. Como se aquilo fosse a única coisa que importasse no mundo, todos cantavam em coro e a plenos pulmões. E aquilo era arte.
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