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TRINTA

      Será que algum dia eu serei avô? Bom, eu não estou perto nem de ser pai. A questão que me intriga não tem nada a ver com ser avô, mas sim o fato de que ser avô significa que duas novas gerações estão passando por nós; vinda de nós, neste caso. Significa que o momento chegou, o momento que se percebe que "ok, a vida passou e não estou mais na minha juventude". Significa que o mais óbvio fato da vida, de que ela passa, realmente se provou verdadeiro. Tudo sempre pode ser resolvido amanhã, em algum dia mais para a frente. Afinal, o mundo não vai acabar hoje mesmo. Ou vai? Pelo menos é isso o que nos move. Ser pai ou mãe, hoje em dia, também não é sinônimo de que a juventude passou. Afinal, muitos jovens viram pais e nem por isso são impossibilitados de ainda assim aproveitarem a vida. Mas chega um momento em que as coisas de jovens, que costumávamos fazer, falar, usar ou criar, já não nos pertencem mais, há outras gerações depois da nossa.     A sensação de que dez anos se
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VERTICAL

       O mundo anda tão vertical. As coisas não costumavam ser assim.      Hoje fiz backup de algumas fotos que estavam no celular para o computador. Eu faço isso de tempos em tempos, por segurança. Enquanto transferia os arquivos, revi algumas fotos do último backup que eu havia feito. Encontrei algumas muito bonitas, até me surpreendi, pois ampliadas na tela do monitor, as imagens ficavam muito mais nítidas do que na tela do celular. A que achei mais bonita era de um pôr do sol, com uma paleta de cores impressionante. O sol estava se pondo no horizonte bem acima da margem do rio, e apareciam diversos reflexos da luz em todos os tons de azul e laranja possíveis. O que mais chamava a atenção era o contorno de um barco à vela, bem no meio da foto, que só era possível notar graças à sombra que o sol fazia atrás do barco. Sempre usei aqueles planos de fundo padrão do Windows, o que acaba nem fazendo diferença no dia a dia, pois eu só ligo o computador à noite por algumas horas, antes de d

BICICLETA

     Hoje eu fui até Charqueadas pedalando. Foram 80 km até uma festa de aniversário. Eu não precisava, mas uma semana antes eu havia decidido que iria de bicicleta. Porém, no dia eu procurei desculpas para não ir. Eu queria ir, e estava até decidido; passei a semana inteira planejando a rota e conhecendo o trajeto. Mas no fundo, eu sentia um receio, pois sabia que era perigoso, ainda mais porque eu percorreria parte do trajeto já à noite. Então, eu usava a possibilidade de chuva como uma carta na manga e uma desculpa preparada caso eu desistisse e, ao invés disso, poder pegar carona com um amigo que iria de carro. Quando amanheceu o dia, eu estava disposto, e me levantei ainda com o pensamento de que iria fazer a tal aventura.     Conforme as horas foram passando, eu sentia que ficava um pouco apreensivo. Será que valia mesmo a pena? Lembrei então de quando eu pedalei na autoestrada pela primeira vez. A primeira vez que andei com a minha bicicleta foi percorrendo uma distância de 50km

FAVORITO

     Quando eu era pequeno, perguntava inúmeras coisas aos meus pais. Coisas do tipo: "qual é a sua música favorita?", "qual é o seu filme favorito?", "qual a sua comida favorita?", e tantas outras parecidas. "Eu não tenho uma música favorita. Eu gosto de tantas, não consigo escolher uma!", eles sempre respondiam. Como eles podiam não ter uma música favorita? É tão fácil escolher uma, eu pensava. A minha música favorita, por exemplo, eu tinha na ponta da língua: Giz, da banda Legião Urbana. Eu não entendia como meus pais não conseguiam ter uma favorita entre todas. "Eu não tenho um filme favorito, existem vários que eu gosto", eles também respondiam. Vários que eu gosto? Mas eu queria saber o favorito! Como podiam não ter um favorito? O meu filme era fácil, e eu sabia todas as falas de cor: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, é óbvio! Sobre a comida favorita eu nem tentava entender, ou melhor, essa questão é a que eu não entendia d

GUARDA CHUVA

     A mãe pede para o filho levar o guarda chuva pois irá chover. O filho, por sua vez, num momento de rebeldia e tentativa de mostrar-se independente, decide não fazê-lo. O que irá acontecer a seguir? Usando o lugar comum, o filho irá se molhar e perceber que no fim era melhor ter seguido o conselho da mãe. Para elevar ainda mais as ironias, a mãe irá cuidar do filho, que acabou pegando um resfriado, provando que no final das contas, o filho não era independente coisa alguma.

PROBLEMA

Eu lembro de tudo Que você me disse Cada Palavra Esse é o problema E o poema

PIZZA

PIZZA Aquele dia eu cheguei em casa meia noite, e minha mãe havia recém feito uma pizza de forno, estava quentinha ainda. Ela sempre foi de inventar umas receitas do nada. Eu estava morrendo de fome, pelo menos o meu corpo estava, pois eu tinha ido dar aula sem comer nada. Sempre tive a mania de sair de casa sem comer. Foi a melhor pizza de forno que eu já havia comido, eu sabia disso, mas a verdade é que eu não senti gosto algum. Não literalmente, é claro, afinal eu sabia que a pizza estava maravilhosa, porém eu apenas não pude aproveitá-la. De alguma maneira eu estava tão disperso, que meus próprios pensamentos não me permitiram sentir o gosto da pizza. Uma pena, pois meu cérebro sabia que ela realmente estava maravilhosa, apesar de eu não lembrar do gosto, apenas da informação. Eu amo pizza, quão irônico poderia ser isso? O motivo, porém, de eu estar disperso aquele dia, com o tempo se esvaiu, como tudo há de ser um dia. Agora aqui pensando, será que o gosto não tinha um toque salga

LEMBRANÇAS

Vê-la dormir me traz uma sensação de paz Que há muito tempo eu não sentia. Seus olhos, que há poucos instantes olhavam para mim Agora descansam em calmaria. A brisa que faz seu cabelo balançar Me hipnotiza enquanto aqui escrevo De repente, ainda dormindo Você procura por mim com seus braços. Você gosta de me ouvir tanto quanto eu gosto de lhe escutar Imagino o que você estaria agora a sonhar. Eu fecho os olhos, ainda acordado, deitado ao seu lado Ouvindo as músicas que tanto escutamos juntos, E isso me acalma de uma maneira singular. Fecho os olhos novamente, Você já não está lá Ouço as mesmas músicas,  Mas já não me acalmam como antigamente. Acordo, com você ainda me amando Mas percebo que foram apenas lembranças Acordo novamente, mais lembranças Novamente dura até quando? Esse poema, diferente do tempo Não é linear Mas e você, onde está? Eu queria estar ao seu lado Ou embaixo Ou em cima Com certeza dentro Só sei que eu quis estar com você. Mas não apenas em lembranças.

COMEÇO

Um cego sente menos, Por não poder enxergar?  Um mudo sente menos, Por não poder falar?  Algumas coisas na vida Necessitam de pouco Para serem sentidas  Talvez, Quanto menos precisar Mais intensas elas são vividas Um ramo de hortelã Exala um aroma maravilhoso Sem nem mesmo precisar Fazer um chá De fato, Quanto mais simples algo for Mais estimulante e prazeroso Poderá se tornar  Algo simples Como aquele frio na barriga Que antecede Ao primeiro toque  Aquele desejo Aquela vontade Aquele sentimento Aquela conexão  De sentir que é algo a mais De sentir que agora vai  O início De um começo

DANÇA

Ela me dá vontade de dançar Mesmo eu não sabendo Não é dança ainda Mas é como se fosse começar Eu pararia o tempo Para admirar o corpo dela Mas eu ficara para sempre Ouvindo ela falar

HORTELÃ

Um físico famoso, que há poucas décadas faleceu e juntou-se ao cosmos do universo, certa vez escreveu um livro onde narra os feitos da sonda espacial  Voyager  em direção a Saturno. Quando ela passou próxima ao planeta, recebeu ordens de virar suas câmeras em direção à Terra. A nave estava a 6 bilhões de quilômetros de distância, e por um leve acidente de geometria, nosso planeta ficou exatamente em cima de um raio de luz, causado pelo reflexo do sol na espaçonave. Na imagem, nosso planeta é apenas um pálido ponto azul (título do livro), ironicamente apoiado em uma faixa de incontáveis pontos iguais a pequenos grãos de areia. Esse relato acabou virando uma das reflexões mais famosas da evolução do pensamento científico moderno. Tudo que já aconteceu em nosso planeta, e tudo que vai acontecer, está contido em um minúsculo e imperceptível ponto em um mar de incontáveis corpos cósmicos. Todas as pessoas, que por ganância lutaram pelo poder, para governar e dominar o mundo por uma fração d

CAFÉ

Aprendi muito com você. Lembro da primeira vez que você beijou minha mão. Nós estávamos em um café, comendo uma torta que custou mais caro do que ela merecia custar, mas que ainda assim era deliciosa. O cappuccino não veio com canela, é verdade, mas estar lá com você bastava. Então, depois de terminarmos de comer, ficamos conversando um de frente para o outro, com nossos cotovelos apoiados na mesinha. Em algum momento, você pegou minha mão e a levou lentamente em direção a sua boca, e a beijou. Por um segundo, senti o tempo parar, só para poder gravar aquele momento. E cá estou escrevendo-o. Lembro também de como você gostava de beijar meu nariz, entre um beijo e outro. Era bem de leve, mas muito sutil. Havia também uma posição que você preferia que segurássemos as mãos enquanto andávamos. E curiosamente, era a minha preferida também. Lembro como eu adorava ver a forma com que você tratava as outras pessoas. Sempre com muito carinho, ou extremamente firme e séria quando necessário. Eu

CALOR

Segundo a ciência, calor não é uma medida escalar de temperatura, é uma ação de troca de energia entre dois corpos. Há calor entre dois corpos quando ambos possuem temperaturas diferentes. Por isso, dizer que o dia "está calor" é errado, o certo seria dizer que a temperatura no dia está quente. Existe o calor simplesmente porque nossos corpos estão em uma temperatura menor do que a temperatura ambiente.      Calor não é um adjetivo, é um verbo.      Mas temperatura não significa necessariamente energia, um exemplo são as fagulhas de solda ou metal serrado que saltam na pele e não queimam. Apesar de estarem extremamente quentes não possuem energia suficiente para queimar. São pedaços de metal tão pequenos que rapidamente perdem toda temperatura que tinham instantes antes de encostar em nossa pele. Um calor que dura tão pouco tempo.      Num lado mais poético, tudo é calor. Tudo na vida é uma troca de energia, e não somente física. Nas pessoas, nos lugares ou em momentos que ap

SORRISO

Alguns podem dizer que é apenas uma sujeira no vidro do carro. Outros irão dizer que é um sorriso. Ou quem sabe uma lágrima. E esse é o poema.  

CALÇADA

Eu soube que iria me apaixonar Quando ela encostou a cabeça Em meu ombro Sentados na calçada Ali eu já soube Tempos depois Descobri também Que foi naquele momento Que eu havia me dado mal.

HUMBERTO

No palco havia um homem de cabelos loiros e compridos de pé, ao lado de um pedestal com um microfone. A guitarra estava pendurada em seu pescoço apenas pela alça. A mão direita do homem estava sobre um teclado, e a esquerda segurava uma gaita harmônica com alguns dedos, enquanto os outros dedos seguravam o microfone do pedestal. E aos seus pés, uma pedaleira de guitarra que ele controlava com o pé direito. Havia diversos holofotes alinhados no teto do palco, todos apontados para o homem com os instrumentos. As cortinas às suas costas mudavam de cor conforme as luzes apontadas para elas alternavam. Em sua frente havia uma multidão de pessoas em pé, no escuro, espalhadas ao longo de dois andares lotados. Naquele momento, não importava o que o homem ao palco falasse, tudo soaria como poesia para as pessoas que o assistiam. Elas estavam ali para isso.      Momentos antes, o homem se preparava atrás das cortinas para entrar no palco. Não era a primeira vez que ele iria fazer aquilo, mas

SENTIR

Esse é um texto de sentimentos e sensações, não de apologia.      Eu gosto de tomar um vinho. Isso me faz ter uma sensação boa de mim mesmo. Sei que com algumas pessoas pode não ser assim, pode trazer até alguns pensamentos confusos. Mas eu gosto e me sinto bem. Sou uma pessoa que cria sentimentos muito facilmente, gosto de sentir as coisas a fundo, não sou de me conter quanto a isso. Mas infelizmente me vejo numa sociedade com estereótipos que veem o fato de sentir coisas, logo cedo, e demonstrar, como um sinal de fraqueza. Isso geralmente assusta algumas pessoas, pode afugentá-las. Mas não porque sentir seja algo ruim; apenas porque a maioria talvez não se permita a isso. Mas eu gosto do sentimento de descoberta, de estar disposto e ciente de que algo bom está surgindo. Não que eu saiba o bastante sobre as coisas, muito pelo contrário. Sei pouco e quero justamente saber mais. Quero sentir coisas boas, e talvez até algumas não tão boas, se isso for necessário para... sentir.     

PITANGA

Era apenas um pé de pitangueira em meio a um solo visivelmente seco. Ao redor não havia outras plantas, de modo que o pé se destacava pelas pequenas frutas vermelhas e brilhosas. De perto, podia-se ver brotos rosa quase florescendo. As frutas pareciam tão perfeitas que não tive coragem de arrancar e experimentá-las. Avistei uma caída no chão e a peguei. Ela estava um pouco machucada, é claro, mas ainda assim era possível sentir seu aroma no ar ao espremê-la. Era macia, e seu suco escorreu entre meus dedos, espalhando ainda mais o aroma frutado. Algo tão simples como um fruto de pitangueira me fez refletir o quão surreal e maravilhoso era o processo de uma semente germinar, crescer e dar frutos contendo outras sementes. Todo o processo biológico por trás disso já é muito bem conhecido e é possível até mesmo explorá-lo, alterando-o geneticamente. Ainda assim, isso não tira o fato de que uma simples semente gerar um fruto tão doce e suculento é algo surreal e maravilhoso, milagroso! Algu

LINIKER

Liniker é a melhor representação do que é de fato a identidade do ser humano.      Uma das coisas que menos faz sentido no comportamento social entre pessoas é qualquer tipo de preconceito, e principalmente qualquer tipo de pré-conceito . Como é possível que exista entre nós, únicos seres vivos conhecidos com nível intelectual e capacidade de raciocínio altíssimos, sentimentos como o preconceito? A cor da pele de uma pessoa não interfere em absolutamente nada na capacidade dela de se comunicar, pensar, crescer, comer, amar, reproduzir, em nada. Porém, em algum momento e por algum motivo, certa pessoa se importou tanto com a diferença de cor da pele que um sentimento negativo foi criado. Esse sentimento foi passado para outras pessoas, e está entre nós até hoje. Sem entrar na questão histórica que possa descrever tal acontecimento, o fato é que o preconceito racial em algum momento surgiu e está sim presente em nossa cultura.      O mesmo se aplica ao preconceito sobre a orientação

ADULTOS

Desde pequeno sempre tive uma visão lírica da vida. Eu tinha muito anseio, ao mesmo tempo que tinha uma certa pressa de viver. Sempre tive uma imaginação aberta, e cedo tive noção que as coisas que eu mais gostava de meditar não eram coisas que adultos costumavam falar em uma roda de conversa. Então logo ficava imaginando essas coisas apenas comigo mesmo. O livro do Pequeno Príncipe com certeza teve grande contribuição em me fazer perceber isso, me identifiquei bastante com a história e o personagem principal. Isso talvez tenha me feito ser um pouco mais fechado, tímido, por assim dizer; pensando bem, certamente fez. Eu adorava ler poesias, romances, e também arte em geral. Criei gosto e até mesmo certa habilidade em criar desenhos e pinturas, tinha um gosto em escrever poemas românticos também. Eu tinha plena noção de que minha visão sobre a vida era muito mais romantizada do que a de meus amigos homens, e claro, nunca expus isso a eles. Eu adorava escutar pessoas mais velhas, suas c