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LINIKER

Liniker é a melhor representação do que é de fato a identidade do ser humano.

    Uma das coisas que menos faz sentido no comportamento social entre pessoas é qualquer tipo de preconceito, e principalmente qualquer tipo de pré-conceito. Como é possível que exista entre nós, únicos seres vivos conhecidos com nível intelectual e capacidade de raciocínio altíssimos, sentimentos como o preconceito? A cor da pele de uma pessoa não interfere em absolutamente nada na capacidade dela de se comunicar, pensar, crescer, comer, amar, reproduzir, em nada. Porém, em algum momento e por algum motivo, certa pessoa se importou tanto com a diferença de cor da pele que um sentimento negativo foi criado. Esse sentimento foi passado para outras pessoas, e está entre nós até hoje. Sem entrar na questão histórica que possa descrever tal acontecimento, o fato é que o preconceito racial em algum momento surgiu e está sim presente em nossa cultura.
    O mesmo se aplica ao preconceito sobre a orientação sexual. Se o preconceito racial não faz o menor sentido, esse então faz menos sentido ainda, se é que é possível. Não existe absolutamente nada que possa explicar racionalmente porque a orientação sexual de alguém possa interferir em qualquer coisa sequer na vida de uma pessoa. A única possibilidade é se a pessoa com o preconceito tiver algum interesse amoroso ou sexual com outra pessoa que tem orientação diferente da sua. Fora isso, não há motivo nenhum para se importar com a relação entre pessoas desconhecidas, que nem sequer fazem parte do seu círculo social. Isso tudo é tão surreal, que é difícil (e não impossível) alguém não ser preconceituoso em uma cultura tão corrompida e impregnada de preconceitos que estão presentes há muitas gerações. Infelizmente a maioria das pessoas não são não-preconceituosas, elas apenas tentam não ser preconceituosas. Isso é tão absurdo, a ponto de que se alguém disser que não gosta de piadas contra homossexuais, por exemplo, a pessoa deve ainda ter de explicar que não tem preconceito quanto a isso, e pode até ser vista com olhos tortos por pensar diferente da maioria. Parece que quanto mais alguém é diferente, mais motivos há para ser excluída por alguma das diferenças. Claro, há quem diga que o relacionamento homossexual possa induzir crianças a seguirem o mesmo comportamento. Pois então, eis aqui o termo pré-conceito citado anteriormente.
    Ora, e quem disse que é errado duas pessoas do mesmo sexo se relacionarem? Talvez esse seja o melhor exemplo para explicar o problema dos pré-conceitos. A grande maioria das pessoas pensam que um homem deve se relacionar com uma mulher; homens devem usar azul, mulheres rosa; homens têm de ser fortes e durões, mulheres delicadas e meigas; meninos jogam bola, meninas brincam de boneca; e tantos outros exemplos absurdos que alimentam desde cedo a criação de preconceitos. Fica claro que é difícil até mesmo se desfazer desses pré-conceitos, pois estão tão enraizados na nossa cultura que é possível nem perceber que eles existem. Outro exemplo clássico: a diferença no julgamento entre a traição de um homem e de uma mulher. A traição masculina é coniventemente aceita, enquanto a feminina é fortemente julgada. Há quem tente justificar tal fato com explicações até mesmo biológicas, comparando a um comportamento animal presente na natureza, pois o homem teria a tendência natural a se reproduzir com diversas mulheres, enquanto a mulher apenas seria a agente passiva. Isso é tão patético que chega a ser vergonhoso sermos nós a espécie que se diferencia justamente pela capacidade intelectual.
    Sendo nós a única espécie com inteligência racional, é direito de qualquer um escolher com quem quer se relacionar, independentemente de qualquer coisa. Não apenas se relacionar, mas também de vestir, fazer, falar, sem ter de se preocupar com preconceitos. O problema é a repressão no julgamento de pessoas que não têm nada a ver com a vida uma das outras. Infelizmente muitas vezes importa mais o que os outros pensam de nós, do que o que pensamos de nós mesmos. Isso é absurdo. Alguém não poder se sentir completo pois existe uma sociedade que define padrões comportamentais na vida das pessoas vai totalmente contra todo o direito de sermos seres livres e racionais. Cada um deveria de fato cuidar do próprio umbigo.

    Liniker é um lindo poema em forma de quebra de padrões sociais, sendo recitado em voz alta e gritante. Liniker representa toda a liberdade de expressão e escolhas que todo ser humano deveria ter. Chega a ser agoniante, e satisfatória, a forma com que Liniker quebra diversos padrões, preconceitos e pré-conceitos. É uma bela representação da inteligência humana.

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