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TRINTA

     Será que algum dia eu serei avô? Bom, eu não estou perto nem de ser pai. A questão que me intriga não tem nada a ver com ser avô, mas sim o fato de que ser avô significa que duas novas gerações estão passando por nós; vinda de nós, neste caso. Significa que o momento chegou, o momento que se percebe que "ok, a vida passou e não estou mais na minha juventude". Significa que o mais óbvio fato da vida, de que ela passa, realmente se provou verdadeiro. Tudo sempre pode ser resolvido amanhã, em algum dia mais para a frente. Afinal, o mundo não vai acabar hoje mesmo. Ou vai? Pelo menos é isso o que nos move. Ser pai ou mãe, hoje em dia, também não é sinônimo de que a juventude passou. Afinal, muitos jovens viram pais e nem por isso são impossibilitados de ainda assim aproveitarem a vida. Mas chega um momento em que as coisas de jovens, que costumávamos fazer, falar, usar ou criar, já não nos pertencem mais, há outras gerações depois da nossa.

    A sensação de que dez anos se passaram tão rápido não é exclusiva nossa, muito menos descoberta por nós. Nossos pais e avós passaram pela mesma fase. Ontem tínhamos vinte e poucos anos, hoje já estamos na casa dos trinta. Há quem diga que a adolescência é a idade na qual mais iremos errar na vida; os vinte e poucos anos são os quais iremos mais aprender; e finalmente os trinta em diante são os anos onde estamos maduros o suficiente para viver sem algumas das preocupações que descobrimos serem desnecessárias, já com bagagem de anos de aprendizado. 

    Poucos anos antes de completar os trinta, eu comprei uma bicicleta. Em pouquíssimo tempo me adaptei ao estilo de vida de usar a bicicleta para tudo: transporte, passeio, lazer e viagens. Na primeira pedalada eu cheguei super cansado. Em seguida fui aumentando o ritmo, sempre me desafiando, até chegar em outras vezes que andei com um amigo mais experiente. Dessa vez cheguei mais do que cansado, exausto. Parecia que era o meu limite. Mas isso só me fez querer mais. Hoje em dia esse amigo não consegue mais me acompanhar em um pedal, não se for para ver quem aguenta pedalar por mais tempo ou maior distância. Competir nunca foi meu objetivo, mas sim me auto desafiar a pedalar mais e aproveitar mais esse estilo de vida. Nessa época, minhas velocidades médias sempre giravam em torno dos vinte e poucos quilômetros por hora. Andar a 24 km/h no começo era um grande marco, 20 km/h era meu patamar mínimo. Hoje, depois de mais de dezenas de milhares de quilômetros pedalados, pedalando sem esforço e sem vento, eu permaneço na média dos 30 km/h e caso queira fazer mais, consigo sem problemas.

    Esses números não são nada impressionantes, não são inatingíveis ou parâmetros de sucesso, mas sim consequências do simples fato de que com o tempo as coisas melhoram, naturalmente. Se antes eu tinha receio de perder os vinte e poucos, hoje fico extremamente contente que cheguei nos trinta. Coincidência ou não, tanto em idade, quanto em velocidade.

    Envelhecer não é ruim. Deixar de envelhecer sim.




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