Pular para o conteúdo principal

CAVALOS

Hoje em dia, oito anos de idade já são o suficiente para se dominar praticamente todos os equipamentos eletrônicos. Com oito anos de idade, ela já sabia ligar o computador sozinha, podia pesquisar o que quisesse ou então assistir ao que quisesse. Geralmente eram desenhos ou filmes infantis. Há diversos pontos a serem discutidos sobre esse tema, sobre até que ponto isso é bom ou ruim para uma criança. Particularmente, não vejo problema, desde que monitorado. Mas não é essa a questão aqui. Com oito anos de idade, ela sabia mexer e configurar o computador melhor que os pais. Chegava em casa e antes de comer, deixava preparado o desenho que iria assistir na TV. Após a refeição, ou durante, sua retina enviava para o cérebro toda a informação que era emitida da tela da TV. Duas ou mais vezes eram necessárias para chamar sua atenção. Ela adorava usar o celular dos pais ou dos irmãos para gravar vídeos, fingindo que estava transmitindo para milhares de pessoas seus depoimentos (ou milhões?). Com oito anos de idade, ganhou seu primeiro celular, apesar de não ter sido um de última geração, tinha uma câmera e aplicativos. Antes de dormir, usava o celular para iluminar o quarto enquanto deitava, e já deitada aproveitava para tentar bater o recorde de algum jogo aleatório. De manhã, as vezes acordava com o celular ainda no peito, pois acabou adormecendo com ele ainda em mãos. 

    Com oito anos de idade, eu não fazia nem um terço disso.

    Em uma conversa entre a família sobre cavalos, uma dúvida foi levantada sobre quantos filhotes uma égua poderia dar à luz. A pergunta foi feita em voz alta, e em menos de dez segundos veio de longe a resposta. Nada surpresos, o restante da família logo percebeu que ela havia procurado na internet a resposta. Perceberam que tudo que ela havia aprendido em relação à tecnologia fez com que aprendesse a buscar assim tão rápido as respostas. Porém, perceberam também que mesmo em um momento de conversa, ela estava grudada a um computador.
    Quando foram até ela, que estava em outro cômodo, para conferir a resposta e chamá-la para o meio, notaram que ela não estava em frente à tela de um computador, nem mesmo a um celular. Ela estava com um livro aberto: o livro C, da enciclopédia Barsa.



Comentários

Aline disse…
Quantos filhotes uma égua pode ter, afinal? Hehe

Legal que ela mantenha o contato com as enciclopédias em que o ctrl+f não funciona. Embora a internet nos torne muito sabidos de vários assuntos, as vezes essa eficiência/instantaneidade faz com que a gente perca muito do que tem no caminho.
Vanderlei Amaral disse…
Siim! Eu concordo plenamente! Aliás, semana passada quando eu acordei ela tava lendo o livro "Sistemas Lineares" que eu uso na cadeira hahaha. Ela não deve ter entendido muito, mas tava lendo a introdução pelo menos. Quando eu ensinei Bhaskara pra ela tmb foi a partir de um livro de matemática que falei pra ela ler ^^.

Postagens mais visitadas deste blog

VERTICAL

       O mundo anda tão vertical. As coisas não costumavam ser assim.      Hoje fiz backup de algumas fotos que estavam no celular para o computador. Eu faço isso de tempos em tempos, por segurança. Enquanto transferia os arquivos, revi algumas fotos do último backup que eu havia feito. Encontrei algumas muito bonitas, até me surpreendi, pois ampliadas na tela do monitor, as imagens ficavam muito mais nítidas do que na tela do celular. A que achei mais bonita era de um pôr do sol, com uma paleta de cores impressionante. O sol estava se pondo no horizonte bem acima da margem do rio, e apareciam diversos reflexos da luz em todos os tons de azul e laranja possíveis. O que mais chamava a atenção era o contorno de um barco à vela, bem no meio da foto, que só era possível notar graças à sombra que o sol fazia atrás do barco. Sempre usei aqueles planos de fundo padrão do Windows, o que acaba nem fazendo diferença no dia a dia, pois eu só ligo o computador à noite por algumas horas, antes de d

FAVORITO

     Quando eu era pequeno, perguntava inúmeras coisas aos meus pais. Coisas do tipo: "qual é a sua música favorita?", "qual é o seu filme favorito?", "qual a sua comida favorita?", e tantas outras parecidas. "Eu não tenho uma música favorita. Eu gosto de tantas, não consigo escolher uma!", eles sempre respondiam. Como eles podiam não ter uma música favorita? É tão fácil escolher uma, eu pensava. A minha música favorita, por exemplo, eu tinha na ponta da língua: Giz, da banda Legião Urbana. Eu não entendia como meus pais não conseguiam ter uma favorita entre todas. "Eu não tenho um filme favorito, existem vários que eu gosto", eles também respondiam. Vários que eu gosto? Mas eu queria saber o favorito! Como podiam não ter um favorito? O meu filme era fácil, e eu sabia todas as falas de cor: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, é óbvio! Sobre a comida favorita eu nem tentava entender, ou melhor, essa questão é a que eu não entendia d

BICICLETA

     Hoje eu fui até Charqueadas pedalando. Foram 80 km até uma festa de aniversário. Eu não precisava, mas uma semana antes eu havia decidido que iria de bicicleta. Porém, no dia eu procurei desculpas para não ir. Eu queria ir, e estava até decidido; passei a semana inteira planejando a rota e conhecendo o trajeto. Mas no fundo, eu sentia um receio, pois sabia que era perigoso, ainda mais porque eu percorreria parte do trajeto já à noite. Então, eu usava a possibilidade de chuva como uma carta na manga e uma desculpa preparada caso eu desistisse e, ao invés disso, poder pegar carona com um amigo que iria de carro. Quando amanheceu o dia, eu estava disposto, e me levantei ainda com o pensamento de que iria fazer a tal aventura.     Conforme as horas foram passando, eu sentia que ficava um pouco apreensivo. Será que valia mesmo a pena? Lembrei então de quando eu pedalei na autoestrada pela primeira vez. A primeira vez que andei com a minha bicicleta foi percorrendo uma distância de 50km