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LOBO

Minha refeição favorita é lasanha. Amo lasanha, assim como amo tantas outras coisas, mas uma lasanha... Todos os dias quando chego em casa a primeira coisa que falo quando entro pela porta não é "oi", e sim: "onde está a lasanha?". Eu não quis dizer que pergunto com bastante frequência se minha mãe fez ou não lasanha (o que 99,9999% das vezes ela não fez), eu literalmente pergunto, há anos, TODOS OS DIAS "onde está a lasanha?". Afinal, um dia há de ter uma lasanha me esperando. EU AMO LASANHA. Assim como amo tantas outras coisas.
    Tenho poucas lembranças de quando era pequeno. Uma delas é a primeira música de que me recordo: Anna Júlia, dos Los Hermanos. Linda música. Mas uma coisa que é difícil lembrar são os momentos em que eu não tinha ao lado meu Pastor Alemão, o Lobo. Quando eu estava na 3° série, participei de uma feira de filhotes, onde os alunos levavam seus animais de estimação. O Lobo tinha meses na época, e fez o maior sucesso na feira. Outra vez, ele ainda filhote, eu o assustei com uma máscara do Batman e me arrependo até hoje, pois ele realmente se assustou com aquilo. Era o cachorro mais calmo que eu conhecia e respeitava demais a minha família. Sua lealdade era inquestionável.
    Ele esteve presente em praticamente toda minha vida escolar e é por isso que é realmente difícil lembrar dos momentos em que ele não estava presente. Já com mais de dez anos, notamos que a idade tinha o alcançado e era triste ver ele tentar levantar-se e não conseguir, ainda mais sendo um pastor enorme. Semana passada ele completou catorze anos de vida e é muito raro cachorros de raça de grande porte alcançaram tamanha idade. Toda vez que eu chegava, ele se levantava e vinha até mim no portão. Eu o "xingava", claro, afinal um cachorro da idade dele não deveria mais ficar levantando-se para me receber. Mas eu agradecia. Uma coisa que ninguém sabe é que eu não saio de casa sem me despedir de cada um dos cachorros, nem que seja só os olhando de longe, eu apenas dou tchau para cada um e saio. Na volta era um carinho na cabeça de cada um (sério, um por um).
    Porém, hoje pela manhã, eu saí e não o vi. Não vi nenhum deles. Mas o ônibus já ia passar e me fui para a parada, sem perceber que se eu tivesse me atinado àquilo, eu poderia ter feito o que eu mentalmente já havia pedido a ele: que ele me avisasse quando fosse partir, para que eu pudesse me despedir. 
    Já bem tarde hoje, que estava bem frio, eu abri a porta, entrei em casa e perguntei: "onde está o Lobo?".




Texto publicado por mim originalmente em 03/06/2015, no site fufa2008.blogspot.com.

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